A Campanha (2023)
A semana da tontura 2023 da ABORL-CCF alerta a respeito dos perigos escondidos por trás de uma nova consciência social.
Vivemos tempos eletrônicos onde tudo é rápido, virtual e visualmente bonito. Valores sólidos e estáveis são cada vez mais raros. A informatização, tão profetizada em filmes futuristas, pós tragédias planetárias é hoje uma realidade. Segundo pesquisa TIC Domicílios, 81% dos brasileiros utilizou a internet entre 2020 e 2021. Estamos falando de 152 milhões de pessoas. As pesquisas a respeito de saúde que somavam 47% dos acessos em 2019 subiram para 53% em 2020. O efeito pandemia.
A facilidade de buscas na rede, a beleza dos sites, abrem espaço para situações de risco quando o assunto é tontura. A tontura é um sintoma comum que só perde para a dor e a febre em consultas de pronto atendimento. Sua frequência vem crescendo ao longo do tempo. Os relatos médicos trazem notícias preocupantes, pois atestam que as causas sérias de tontura são mais prevalentes na vida real do que em estudos populacionais. O diagnóstico inapropriado e a condução inadequada dos casos ocorrem em uma proporção relevante desses pacientes. Isto porque o conhecimento das causas de tontura, bem como a competência para pedir exames adequados e medicar de maneira correta, nem sempre são observados no atendimento desses casos. Isto quando o sintoma não é conduzido pelo próprio sujeito, leigo, que segue tutoriais de internet. A grande maioria dos casos de tontura tem origem benigna, mas algumas causas necessitam tratamento medicamentoso e/ou hospitalar imediato e são de difícil diagnóstico diferencial. Estamos falando de acidente vascular cerebral (AVC), doenças inflamatórias do cérebro, tumores, hemorragias, intoxicação por medicamentos, carências nutricionais e manifestações de câncer à distância (síndromes paraneoplásicas). E mais de 30% desses casos são tratados como se tivessem doenças benignas.
Some-se a essas ocorrências os procedimentos inadequados, que resultam em complicações e sequelas nem sempre resolvidas. Uma pesquisa na internet jamais substitui os vários anos de formação de uma escola médica, que fornece conhecimentos imprescindíveis de anatomia, fisiologia, patologia, farmacologia, investigação, estágio clínico, etc. Profissionais não médicos podem até se entender aptos a avaliar, diagnosticar e propor um tratamento. No entanto, quem tem a preparação e a competência necessárias para lhe socorrer no caso de uma complicação ou acontecimento inesperado é apenas o médico. É ele que tem autoridade para medicar, pedir exames complexos ou internar para um acompanhamento hospitalar. Não importa de onde você vem ou o motivo que o fez procurar por ele. Ele vai atendê-lo.
Tontura é coisa séria. Precisa de um diagnóstico médico.
Autora: Roseli Bittar